Essa semana, vivi uma situação que ilustra perfeitamente por que tantas empresas travam quando tentam crescer. Estamos naquele mesmo cliente de casos anteriores, uma rede que cresceu sem dono, sem mapa e sem regras.

Depois de 3 dias caçando um problema intermitente (o sistema travava, a rede engasgava, o Wi-Fi sumia), encontramos o culpado através de uma pista no DHCP. Um hostname que remetia a um equipamento jurássico: um switch da extinta 3Com.

Ao questionar o cliente, veio a pérola:

“Ah, ganhei esse switch de um amigo. Ele estava com umas portas queimadas, mas eu liguei os cabos nas portas do fundo, bem longe das queimadas. Achei que não teria problema.”

A gente ri para não chorar. Mas esse switch “frankenstein” é apenas o sintoma de uma doença muito mais grave: a mentalidade de que TI é custo, não estrutura.

Quem é o “Tião” da sua empresa?

No mundo da construção, o “Tião” é aquele que resolve o vazamento com fita crepe. Funciona na hora? Sim. Mas e amanhã?

Na TI, o problema é mais profundo. Muitas vezes, o “Tião” é o próprio dono da empresa. Ou então, é um curioso validado pelo gestor, sob a justificativa perigosa de que “fazer projeto é jogar dinheiro fora”.

É o dono que pensa: “Para que vou pagar um consultor para desenhar a rede se o meu sobrinho cobra uma pizza para ligar os cabos?”. É essa mentalidade que espalha switches domésticos (baratinhos) dentro de forros de gesso, atrás de armários e em salas trancadas, criando uma rede invisível e incontrolável.

O dono acha que está economizando. Na prática, ele está contratando um colapso futuro.

O Barato que Sai Caríssimo

O switch “meio queimado” que entrou na rede de graça custou, na prática, 3 dias de operação instável e horas de consultoria especializada para diagnosticar.

Aquela “economia” de não fazer um projeto estruturado lá no começo cobrou juros compostos agora. Quando a rede para, ninguém sabe onde está o problema, porque os equipamentos estão escondidos no forro e ninguém sabe quem ligou o quê. É um paciente incurável: a gente apaga o incêndio hoje, mas amanhã outra “gambiarra” validada pela chefia vai falhar.

Arquitetura e Escalabilidade: Não é coisa de Rico

Existe um mito de que “Fazer projeto de rede é caro” ou “Isso é só para multinacional”. Mentira.

Arquitetura de rede não é sobre comprar equipamentos da NASA. É sobre Planejamento. É desenhar uma estrada que aguente o trânsito de hoje, mas que já tenha o acostamento pronto para virar uma pista dupla amanhã.

Começar certo — com switches gerenciáveis, cabeamento estruturado e segmentação (VLANs) — muitas vezes custa o mesmo ou até menos do que o acumulado de equipamentos domésticos que você troca todo ano porque queimaram ou travaram.

Se você está começando ou expandindo, entenda: a rede é a espinha dorsal do seu negócio. Se ela for feita na base do “quebra-galho” porque você acha que investir é gasto, ela vai quebrar exatamente no dia que você mais precisar crescer.

Não valide a gambiarra. Invista na fundação.