Ontem à noite. Chuva torrencial aqui na região. Enquanto a maioria das pessoas se preocupava com bueiros entupidos e ruas alagadas, eu estava gerenciando uma situação bem mais delicada: uma empresa de logística com a infraestrutura de rede caindo em tempo real.

Não era drama. Era exatamente o que eu havia previsto três anos atrás.

O Incidente: Quando “Dois Planos” São Na Verdade Um

A empresa tinha dois links de fibra ótica dedicados. De operadoras diferentes, documentação linda, redundância garantida no papel. Só que havia um porém: ambas as fibras passavam pelo mesmo caminho físico.

Sim, isso mesmo. Dois links. Uma única rota. Uma única árvore que podia cair.

E caiu.

Quando um galho de árvore levou a fiação junto, as duas fibras romperam simultaneamente. A empresa, que “tinha redundância”, ficou sem conectividade principal. Do ponto de vista da operação, tinha tanta proteção quanto um guarda-chuva em um furacão.

A situação era caótica. Mas não era caos total. E sabe por quê?

O Link Que Salvou o Dia (E a Reputação)

Três anos atrás, quando sugeri um terceiro link via rádio com rota totalmente diferente, a reação foi a esperada: “Vai custar mais. Qual é a urgência?” Mas a segurança operacional venceu. O link foi implementado.

Não é o melhor link do mundo. A largura de banda é consideravelmente menor que a fibra. Nunca foi desenhado para substituir a fibra. O rádio estava ali para uma coisa única: manter os sistemas críticos funcionando enquanto a equipe resolve o problema principal.

E foi exatamente isso que aconteceu.

Enquanto a administrativo e o pessoal operacional enfrentavam limitações óbvias (porque, obviamente, uma banda de rádio não substitui duas fibras), os sistemas críticos continuaram no ar. O TMS continuou. A comunicação entre centros de distribuição continuou. As operações vitais não pararam.

A empresa sofreu impacto? Sim. Total? Não. E essa diferença, meu amigo, é a diferença entre uma notícia ruim e um desastre.

A Ilusão da Redundância

Aqui está o problema que vejo repetidamente em empresas de todos os tamanhos: elas confundem “ter dois links” com “ter redundância de verdade”.

Redundância real não é sobre quantidade. É sobre diversidade. Diferentes rotas. Diferentes tecnologias. Diferentes pontos de falha.

Se seus dois links passam pelo mesmo caminho físico, você não tem redundância. Você tem fila para cair junto. Se seu backup está no mesmo datacenter, você não tem backup. Você tem cópia. Se sua automação de failover não está configurada, você não tem proteção. Você tem esperança.

Empresas investem milhões em sistemas sofisticados, mas economizam nos detalhes que realmente importam. Daí vem um temporal e tudo desmorona.

A Dependência Que Ninguém Quer Admitir

Vamos ser honestos: empresas de hoje funcionam ou não funcionam dependendo de conectividade. Ponto. Não é exagero. Não é cenário catastrófico. É realidade.

Uma falha de internet hoje significa:

  • Sistemas ERP offline
  • TMS inoperante
  • Impossibilidade de emitir notas fiscais
  • Atraso em entregas
  • Clientes sem comunicação
  • Equipe administrativa olhando para a tela esperando “voltar”

Não é problema técnico. É problema de negócio. E é grave.

O que me intriga é que muitas empresas ainda tratam isso como contingência (“ah, se cair, a gente resolve”), quando deveriam tratar como inevitabilidade (“quando cair, aqui está como a gente continua operando”).

O Que Mudou Agora?

Nada muda só porque um incidente aconteceu. Mas coisas mudam quando você coloca a experiência vivida em perspectiva.

Esse evento reforçou algo que já sabia, mas que precisa ser dito em voz alta: não é luxo investir em redundância real, em roteamento automatizado, em múltiplas tecnologias de conectividade. É necessidade básica.

Quanto custa um link de rádio? Menos que uma hora parada de uma logística com centenas de entregas para processar.

Quanto custa automação de failover? Menos que o stress de gerenciar uma crise sem proteção.

Quanto custa fazer o desenho certo da primeira vez? Bem menos que corrigir depois.

A Pergunta Que Você Deveria Fazer Agora

Feche esse artigo e faça a si mesmo: sua empresa consegue sobreviver duas horas sem internet? E se conseguir, é porque está realmente preparada, ou porque ainda não choveu forte o suficiente por aqui?

Se você respondeu “não” para a primeira pergunta, ou “provavelmente não” para a segunda, você já sabe o que precisa fazer.

Não espere que a chuva te ensine a lição. Porque essa lição custa caro quando é ensinada pelo temporal.

 

Quer auditar a redundância da sua infraestrutura? Fale comigo.

Sou especialista em infraestrutura crítica com mais de 15 anos gerenciando redes para empresas de logística, e-commerce e operações 24/7. Certificado como UniFi Wireless Admin, UniFi Full Stack Professional, Proxmox Gold Partner, MikroTik MTCNA, MTCRE, Linux SysAdmin e Linux Engineer.

Minha abordagem é pragmática: não é sobre ter a tecnologia mais cara, é sobre ter a arquitetura certa. Links diferentes. Tecnologias heterogêneas. Failover automático que funciona de verdade — como o caso que acabei de compartilhar aqui.

Já ajudei dezenas de empresas a descobrir que sua “redundância” era na verdade concentração em outro lugar. E a implementar soluções que realmente funcionam quando chove, cai árvore, ou a internet decide tirar férias.

Se você quer dormir tranquilo sabendo que sua operação continua mesmo quando algo falha, vamos conversar.